A voz da Tília (Florbela Espanca)

Diz-me a tília a cantar:
Eu sou sincera,
Eu sou isto que vês: o sonho, a graça;
Deu ao meu corpo, o vento, quando passa,
Este ar escultural de bayadera
E de manhã o sol
é uma cratera,
Uma serpente de oiro que me enlaça...
Trago nas mãos as mãos da Primavera...
E é para mim que em noites de desgraça
Toca o
vento Mozart, triste e solene,
E à minha alma vibrante, posta a nu,
Diz a chuva sonetos de Verlaine...
E, ao ver-me
triste, a tília murmurou:
"Já fui um dia poeta como tu...
Ainda hás-de ser tília como eu sou...
0 Comments:
Post a Comment
Subscribe to Post Comments [Atom]
<< Home